«Intensificando um tom elegíaco que começou em Como se Bosch Tivesse Enlouquecido , o novo livro de A.M. Pires Cabral relembra coisas esquecidas, coisas extintas, coisas que mais valera não relembrar, porque aconteceram há muitas décadas e agora é tarde. Que memórias são essas? São casas, árvores, raparigas, imagens que passaram em tempos pela retina de uns 'olhos com que vimos tanta coisa'.
Mais pessimista do que o pessimista Pessanha, Pires Cabral medita melancolicamente sobre a idade, 'telescópio de limitado alcance' que muito acumula e pouco ensina, 'inútil idade'. De que servem os versos, o que dizer aos filhos, que Deus é esse que já não se manifesta, que sentido tem tudo isto? O concreto torna-se então alegórico, o tempo é uma casa alugada, as árvores que julgámos imortais foram abatidas, as formigas mostram que 'todo o comestível é um destino idóneo'. Job às avessas, incapaz de aceitar com resignação o inevitável, atormentado por uma insistente visita, o mofino Mister P, o poeta não entra docemente em noites escuras. Por mais que tenha de 'varrer a eira' ou 'meter a viola no saco', este sujeito inconformado e sarcástico não vai às boas. Faz má cara, deita a língua de fora, toca um requiem mas sob protesto.»
—P.M.
«Intensificando um tom elegíaco que começou em Como se Bosch Tivesse Enlouquecido , o novo livro de A.M. Pires Cabral relembra coisas esquecidas, coisas extintas, coisas que mais valera não relembrar, porque aconteceram há muitas décadas e agora é tarde. Que memórias são essas? São casas, árvores, raparigas, imagens que passaram em tempos pela retina de uns 'olhos com que vimos tanta coisa'.
Mais pessimista do que o pessimista Pessanha, Pires Cabral medita melancolicamente sobre a idade, 'telescópio de limitado alcance' que muito acumula e pouco ensina, 'inútil idade'. De que servem os versos, o que dizer aos filhos, que Deus é esse que já não se manifesta, que sentido tem tudo isto? O concreto torna-se então alegórico, o tempo é uma casa alugada, as árvores que julgámos imortais foram abatidas, as formigas mostram que 'todo o comestível é um destino idóneo'. Job às avessas, incapaz de aceitar com resignação o inevitável, atormentado por uma insistente visita, o mofino Mister P, o poeta não entra docemente em noites escuras. Por mais que tenha de 'varrer a eira' ou 'meter a viola no saco', este sujeito inconformado e sarcástico não vai às boas. Faz má cara, deita a língua de fora, toca um requiem mas sob protesto.»
—P.M.