“Aqui estou eu!”, diz-nos ela logo de início, e a partir deste ponto de exclamação, que sinaliza uma urgência, podemos começar a contar uma história de duas obsessões. A do dramaturgo Frank Wedekind, que começou por compor esta “monstruosa” tragédia em 1892 e nela trabalhou anos a fio, num tumulto de versões e reescritas. E a do encenador Nuno M Cardoso, que se confronta finalmente com ela depois de atravessar – na companhia de Nuno Carinhas, cumplicidade criativa que é aqui reativada – Os Últimos Dias da Humanidade, de Karl Kraus, autor contemporâneo de Wedekind e patrono de Lulu, peça que ele definiu como “uma sucessão de elementos clownescos e trágicos”. Chega-nos, aqui e agora, numa versão que recupera cinco dos sete atos de Espírito da Terra e de A Caixa de Pandora , seguindo de perto o itinerário sacrificial da personagem pelas cidades de Berlim, Paris e Londres. Lulu coloca um monstro fabuloso – o desejo – à solta num mundo social que combina uma espécie de libertinagem cínica com uma fachada puritana. Ao articular uma “realidade” crua e documental com uma ambiência de sonho e fantasia, Lulu aproxima-se de um conto de fadas para adultos. Nuno M Cardoso encena estas magníficas contradições tendo como “guias espirituais” a ferocidade de Edward Bond – “É uma peça sobre sexo, dinheiro e violência. Lulu é a história profética do capitalismo”, escreveu o dramaturgo num ensaio – e a poesia elegíaca mas esperançosa de Paul Celan, o poeta de “a morte é uma flor que só abre uma vez”…
“Aqui estou eu!”, diz-nos ela logo de início, e a partir deste ponto de exclamação, que sinaliza uma urgência, podemos começar a contar uma história de duas obsessões. A do dramaturgo Frank Wedekind, que começou por compor esta “monstruosa” tragédia em 1892 e nela trabalhou anos a fio, num tumulto de versões e reescritas. E a do encenador Nuno M Cardoso, que se confronta finalmente com ela depois de atravessar – na companhia de Nuno Carinhas, cumplicidade criativa que é aqui reativada – Os Últimos Dias da Humanidade, de Karl Kraus, autor contemporâneo de Wedekind e patrono de Lulu, peça que ele definiu como “uma sucessão de elementos clownescos e trágicos”. Chega-nos, aqui e agora, numa versão que recupera cinco dos sete atos de Espírito da Terra e de A Caixa de Pandora , seguindo de perto o itinerário sacrificial da personagem pelas cidades de Berlim, Paris e Londres. Lulu coloca um monstro fabuloso – o desejo – à solta num mundo social que combina uma espécie de libertinagem cínica com uma fachada puritana. Ao articular uma “realidade” crua e documental com uma ambiência de sonho e fantasia, Lulu aproxima-se de um conto de fadas para adultos. Nuno M Cardoso encena estas magníficas contradições tendo como “guias espirituais” a ferocidade de Edward Bond – “É uma peça sobre sexo, dinheiro e violência. Lulu é a história profética do capitalismo”, escreveu o dramaturgo num ensaio – e a poesia elegíaca mas esperançosa de Paul Celan, o poeta de “a morte é uma flor que só abre uma vez”…